sábado, 1 de dezembro de 2012

Evangelização à brasileira




Nashla Dahás
30/11/2012

Ao se adaptar às necessidades locais da sociedade brasileira, as religiões evangélicas vem conquistando cada vez mais espaço no país.



Colonizado e cristão, miscigenado e avesso a Revoluções, o Brasil evangélico adapta a crença em seus mitos fundadores e difunde um protestantismo que pretende conquistar o mundo.
Ao final dos anos de 1950, Nelson Rodrigues tornou conhecida a expressão “complexo de vira-latas” para falar da suposta inferioridade a que o brasileiro se colocava diante do mundo. Tratava-se, naquela ocasião, de uma crônica sobre futebol, mas funcionaria durante muito tempo como um deboche do atraso brasileiro, o país do eterno futuro, cheio de potencialidades naturais e de “cordialidade”, mas incapaz de resolver seus problemas mais antigos como o analfabetismo e a fome.
Coincidência ou não, entre os anos 50 e 70, a população evangélica daria uma salto de quase 70% em relação ao período anterior, acompanhada pela modernização conservadora durante a ditadura militar, e pela explosão mundial de movimentos sociais em defesa da liberdade de expressão, dos direitos das minorias e da negação da guerra. Um por um, os temas da agenda social brasileira e mundial foram gradualmente incorporados à pregação protestante tradicional: o pastor abre as portas da Igreja como as de sua própria casa, possui a autoridade de um pai ao acolher o cidadão mais desamparado pelo Estado e pela sociedade; oferece-lhe uma família para pertencer, eventualmente emprego e orgulho próprio, e um objetivo de vida, uma missão: mostrar ao mundo o caminho da salvação.
Podia ter dado certo ou não, como ocorre igualmente nos processos históricos e na vida, mas em fins da década de 1980, a redemocratização no Brasil e a vitória do capitalismo no mundo, contribuíram com importantes ferramentas: a legítima liberdade de crença religiosa, o livre acesso aos meios de comunicação e a consolidação do modelo liberal de sociedade de massa: cada um por si e pelos seus.
Contudo, o Espírito Santo, ou para os mais céticos, o senso de realidade e de oportunidade de alguns pastores e igrejas escapou à observação restrita às fronteiras e à conjuntura, e enxergou o impacto da fragmentação global. Conflitos étnicos, desemprego generalizado e a desarticulação da família tradicional não desfrutam mais da opção dos projetos revolucionários, o Estado tornou-se autoridade menos capaz com o aprofundamento da globalização, e a política é hoje um terreno cada vez mais desacreditado pelos jovens. Nascidas no dia a dia da batalha que cada fiel pentecostal trava com a realidade brasileira, explicada pela demonização de seus mais diversos reversos, as igrejas evangélicas oferecem à América Latina, Ásia e África uma nova utopia. Sem revoluções, imposição ou violência, elas agem pela conversão e crescem sempre de baixo para cima, raramente seduzem as elites nos primeiros encontros, misturam com alguma facilidade a sua fé aos aspectos mais tradicionais das igrejas predominantes, e transformam a religião em uma identidade conquistada e vencedora, pois que escolhida para levar a palavra de Deus aos incrédulos.
Na África e na América Latina, as proximidades da língua parecem ajudar no crescimento das igrejas brasileiras, sempre associadas a outros elementos, específicos em cada país. Pesquisadores apontam que nessas regiões os cultos são realizados em proporção de 40% na língua local, e 60% em português, atraindo também os grupos de imigrantes brasileiros.
Na Argentina, é possível que as sucessivas crises econômicas, somadas ao desgaste no orgulho das classes médias, contribuam para uma aceitação das igrejas bem maior do que no Chile, onde o catolicismo ainda é profundamente identificado com uma distinção de classe. Bolívia, Peru e México apresentam um índice de crescimento pentecostal marcadamente entre as populações indígenas, para as quais há um trabalho direcionado por parte de algumas igrejas, e minuciosamente acompanhado pela SEPAL (Servindo aos pastores e líderes), missão internacional que avalia e difunde o crescimento evangélico no Brasil há mais de 30 anos. No site da instituição/Rede é possível ter acesso às chamadas “missões transculturais”, cujos objetivos variam de acordo com as regiões de destino e a formação dos missionários. Estes, são atualmente cerca de 600 e incluem teólogos, professores, antropólogos, administradores, entre muitos outros espalhados por quase 70 países do globo.

A motivação mais comum a levar essas pessoas para lugares tão distantes de suas raízes é a “batalha espiritual”: cada povo não cristão seria vitima de um tipo de demônio como a pobreza, a violência, a exclusão, o neocolonialismo, o desemprego, a solidão, etc. Mas entre os horrores contemporâneos, existe ainda uma hierarquia que alça ao seu topo o islamismo e as religiões orientais. Daí a existência da chamada “Janela 10-40”; segundo a qual a maior concentração de pessoas do globo terrestre que ainda não “encontrou Jesus” localiza-se no retângulo que se estende da África ocidental através da Ásia, entre os graus 10 e 40 a norte do equador, incluindo o bloco muçulmano e o bloco budista, ou seja, bilhões de pessoas à espera da conversão.
Ao que é possível obter de informações nos sites das igrejas como a Universal do Reino de Deus, e em pesquisas acadêmicas variadas, as missões são estudadas com bastante antecedência por uma comissão que visita o país ou região de destino e elabora uma espécie de dossiê avaliando as probabilidades de sucesso, a legislação local, os trâmites relacionados à existência jurídica da Igreja e, sobretudo, a cultura local. Contexto nacional, linguagem apropriada, classes e modos de vida específicos, localização ideal dos templos com vias de acesso e sem concorrências, compra ou preferencialmente o aluguel de um imóvel com as proporções adequadas, arrecadamento estimado dos dízimos... A fé evangélica é também uma empresa de porte multinacional, embora esteja longe de se reduzir a isso.
Movidas especialmente pela adesão global de populações pobres, com baixos graus de instrução, não-brancas, jovens, e mulheres, tudo indica que essas igrejas buscam e produzem fieis cada vez mais diferentes entre si, marcados por histórias nacionais e individuais muito particulares, parecidos com a sociedade em que vivem mas, ao mesmo tempo, sensíveis a um discurso que universaliza sentimentos velhos conhecidos do povo brasileiro.
Desde a síndrome de vira latas criada por Nelson Rodrigues, até a opressão sentida pelas tribos indígenas latino-americanas, agora fortalecidas pelo poder eleitoral dos evangélicos, a exclusão social, no caso dos imigrantes nos Estados Unidos, e a diversidade, marca de nossa identidade histórica e cultural, agora oferecida aos russos, aos chineses, e aos países muçulmanos mais radicais... Não sem algum custo, é claro.

Fonte : http://revistadehistoria.com.br/secao/artigos/evangelizacao-a-brasileira

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Dos réis ao real: as moedas no Brasil






Dos réis ao real: as moedas no Brasil

A história do dinheiro no Brasil é cheia de reviravoltas.

A gente sempre quis ter. Comida, roupas, terras – e coisas que pertenciam a outras pessoas. Há 10 mil anos, como não existia dinheiro, a solução era darmos algo que tínhamos de bastante valor em troca do que queríamos. De lá para cá, muita coisa foi usada para fazer essas negociações: bois (provavelmente a primeira forma de moeda), conchas (muito usadas na China e na Austrália), sal (que os gregos trocavam por escravos), sementes de cacau (adotadas pelos maias e pelos incas) e até tulipas (dadas na Holanda como dote de casamento).

No Brasil, já usamos açúcar, tabaco e até notas estrangeiras (no século 17, o florim holandês foi fabricado em Recife), além de um sem-número das nossas próprias moedas, que perdiam valor rapidamente. Com base no novo livro Linha do Tempo – Uma Viagem pela História da Humanidade, de autoria da editora de História Cláudia de Castro Lima, conheça os melhores momentos dos cinco séculos do dinheiro em nosso país.

Trocas malucas
(Até concha já foi usada por aqui.)

1500 - Tostão

Ao chegar ao Brasil, os portugueses encontram cerca de 3 milhões de índios vivendo em economia de subsistência. Já os colonizadores usam moedas de cobre e ouro, que têm diversos nomes de acordo com a origem: tostão, português, cruzado, vintém e são-vicente.

Século 16 - Jimbo e réis

A pequena concha era usada como moeda no Congo e em Angola. Chegando ao Brasil, os escravos a encontram no litoral da Bahia e mantêm a tradição. Desde o descobrimento, porém, a moeda mais usada é o real português, mais conhecido em seu plural “réis”, que valeu até 1942.

1614 - Açúcar

Por ordem do governador do Rio de Janeiro, Constantino Menelau, o açúcar é aceito como moeda oficial no Brasil. De acordo com a lei, comerciantes eram obrigados a aceitar o produto para pagar compras.

1695 - Cara e coroa

A Casa da Moeda do Brasil, inaugurada na Bahia um ano antes, cunha suas primeiras moedas de ouro. Em 1727, surgem as primeiras moedas brasileiras com a figura do governante de um lado e as armas do reino do outro, conforme a tradição européia. Os termos “cara” e “coroa” vêm daí.

1942 - Cruzeiro

Na primeira troca de moeda do Brasil, os réis são substituídos pelo cruzeiro durante o governo de Getúlio Vargas. Mil réis passam a valer 1 cruzeiro; é o primeiro corte de três zeros da história monetária do país. É aí que surge também o centavo.

1967 - Cruzeiro novo

O cruzeiro novo é criado para substituir o cruzeiro, que levou outro corte de três zeros. Mais uma vez, isso ocorre por causa da desvalorização da moeda. Para adaptar as antigas cédulas que estavam em circulação, o governo manda carimbá-las.

1970 - Cruzeiro

A moeda troca de nome e volta a se chamar cruzeiro. Dessa vez, porém, só muda o nome, mas não o valor. Ou seja, 1 cruzeiro novo vale 1 cruzeiro.

1986 - Cruzado

Por causa da inflação, que alcança 200% ao ano, o governo de José Sarney lança o cruzado. Mil cruzeiros passam a valer 1 cruzado em fevereiro deste ano. No fim do ano, os preços seriam congelados, assim como os salários dos brasileiros.

1989 - Cruzado novo

Por causa de inflação de 1000% ao ano, ocorre uma nova troca de moeda. O cruzado perde três zeros e vira cruzado novo. A mudança é decorrência de um plano econômico chamado Plano Verão, elaborado pelo então ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega.

1990 - Cruzeiro

O cruzado novo volta a se chamar cruzeiro, durante o governo de Fernando Collor de Mello. O mesmo plano econômico decreta o bloqueio das cadernetas de poupança e das contas correntes de todos os cidadãos brasileiros por 18 meses.

1993 - Cruzeiro real

No governo de Itamar Franco, com Fernando Henrique Cardoso como ministro da Fazenda, o cruzeiro sofre outro corte de três zeros e vira cruzeiro real. No fim do ano, o ministro cria um indexador único, a unidade real de valor (URV).

1994 - Real

Após uma inflação de 3700% em 11 meses de existência do cruzeiro real, entra em vigor a Unidade Real de Valor (URV). Em julho, a URV, equivalendo a 2750 cruzeiros reais, passa a valer 1 real.

Fonte : http://www.facebook.com/HistoriaIlustrada


domingo, 25 de novembro de 2012

Guernica


"Não, a pintura não está feita para decorar casas. Ela é uma arma de ataque e defesa contra o inimigo." Pablo Picasso sobre Guernica.

Guernica é um painel pintado por Pablo Picasso em 1937 por ocasião da Exposição Internacional de Paris. Foi exposto no pavilhão da República Espanhola. Medindo 350 por 782 cm, esta tela pintada a óleo é normalmente tratada como representativa do bombardeio sofrido pela cidade espanhola de Guernica em 26 de abril de 1937 por aviões alemães, apoiando o ditador Francisco Franco. Atualmente está no Centro Nacional de Arte Rainha Sofia, em Madrid.

A pintura foi feita com o uso das cores preto e branco - algo que demonstrava o sentimento de repúdio do artista ao bombardeio da pequena cidade espanhola. Claramente em estilo cubista, Picasso retrata pessoas, animais e edifícios nascidos pelo intenso bombardeio da força aérea alemã (Luftwaffe), já sob o controle de Hitler, aliado de Francisco Franco.
Morando em Paris, o artista soube dos fatos desumanos e brutais através de jornais - e daí supõe-se tenha saído a inspiração para a retratação monocromática do fato.
Sua composição retrata as figuras ao estilo dos frisos dos templos gregos, através de um enquadramento triangular das mesmas. O posicionamento diagonal da cabeça feminina, olhando para a esquerda, remete o observador a dirigir também seu olhar da direita para a esquerda, até o lampião trazido ainda aceso sobre um braço decepado e, finalmente, à representação de uma bomba explodindo.
Esse quadro foi feito também com o objetivo de passar para os que vissem o que ele estava sentindo, um vazio por dentro de si, um conflito, uma guerra consigo mesmo buscando resposta pra sua vida amorosa, e toda vez que ele via o quadro, pensava consigo mesmo, será que o meu problema é maior que essa guerra, ou tem mais importância para os outros, e naquele momento ele conseguia esquecer. O que para nós demonstra uma grande preocupação por parte do autor do mesmo.

 

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Milton Santos: Cidade pede um novo urbanismo

Milton Santos nasceu em Brotas de Macaúbas, no interior da Bahia, em 1926. Morreu em junho de 2001, aos 75 anos, depois de uma vida ligada a Salvador. Formado em direito em 1948 (Ufba), escreveu livros (cerca de 40) reconhecidos por geógrafos em todo o mundo. Foi preso em 1964 e exilado, passando a ensinar na França, Estados Unidos, Canadá, Peru, Venezuela e Tânzania, antes de retornar ao Brasil. Foi, por muitos anos, editorialista de A TARDE. Há exatos 10 anos, o professor Milton Santos assinava um artigo dentro do caderno comemorativo pelos então 450 anos da fundação da cidade de Salvador, em A TARDE. A lucidez dos argumentos, a lógica das conclusões e a cadência de sua escrita, como sempre, chamaram para esse texto merecidos destaque e atenção. Reconhecendo a atualidade e importância de suas colocações, e prestando uma justa homenagem a esse pensador ímpar, A TARDE, no momento em que comemora os 460 anos da capital baiana, volta a oferecer aos seus leitores o citado artigo. Leia a seguir, na íntegra:

Salvador nasce como uma planta transplantada, para afirmar, em terra americana, a presença portuguesa e servir como base transatlântica ao projeto de mudialização capitalista. Em sua origem deram-lhe um modelo, trazido da corte, mas a mistura, aqui, de raças, línguas e culturas e a adaptação a um meio natural opulento produziram uma associação inesperada, um hibrismo inédito na História, que iria nortear a sua evolução e marcar, para sempre, a personalidade do lugar. Salvador cresceu como península - mar e continente confundidos -, misturando os apelos do mundo e o chamado da terra e assim podendo renovar, século após século, sua aventura original.

Na vida da cidade há momentos decisivos. Para a minha geração, esse momento pode ser estabelecido nos anos imediatos à Segunda Guerra Mundial, nos quais coincidem mudanças fundamentais no panorama internacional, na vida brasileira, na economia do estado e na cidade.

Tratava-se menos de um divisor de águas e mais de uma fase de transição, que iria se estender por um quarto do século, até que se inaugure uma nova fase de crescimento. Foi uma época de abertura explosiva, um período de grande ebulição e de progresso, tanto na vida material, quanto na atividade intelectual. Desenvolve-se, no estado, a agricultura, melhoram os transportes e as comunicações, explora-se o petróleo, assentam-se, com o planejamento, as bases para a industrialização e, quanto à expansão da informação e do consumo, crescem as cidades e a vida de relações.

CRESCIMENTO – Então Salvador se prepara para abandonar seu papel secular de capital incompleta e displicente e passa a vigiar e melhor comandar seu território, dele recebendo contingentes que, em 25 anos, fazem triplicar sua população (menos de 350 mil em meados da década de 40, cerca de 1.150 mil em 1970). A cidade diversifica a sua atividade, produz um novo arranjo de profissões e classes sociais e parte à conquista do seu espaço, criando novos bairros e deixando explodir outros, onde, nas famosas “invasões”, instala-se uma população dinâmica, mas pobre. O velho centro, ao mesmo tempo, moderniza-se e se degrada - sobretudo na Cidade Baixa - e se espalha sobre bairros residenciais tradicionais, mas já não é suficiente para abrigar o comércio e os serviços, que vão criar em outros lugares (primeiro na Liberdade, na Calçada, na Barra) novos pólos de atividade.

A cidade invade uma série de sítios que ela aproveitara ou fabricara em quatro séculos, urbaniza a sua franja litorânea, mas deixa intactos inúmeros vazios.

SER ORIGINAL – Terminada essa fase, Salvador decide ser, logo após Brasília, a segunda cidade mais moderna do Brasil. Mas decreta, também, que deveria produzir sua modernidade de modo original. Para ser como Aracaju, Goiânia ou Belo Horizonte teria que mudar de lugar. Essa idéia não foi aceita. Também não adotou a solução de São Paulo, que substituiu as velhas pedras por novas construções, mas no mesmo sítio, como se a novidade se envergonhasse do passado. Salvador simplesmente se valeu dos vazios especulativos deixados pela história e preferiu dar as costas ao centro velho - que era, praticamente, toda a cidade histórica - e edificar outro todo novo, para a administração, e ainda outro, próximo do primeiro e igualmente novo, destinado aos negócios.

BAIRROS – A originalidade não ficou aí. Foi decidido estabelecer, estrategicamente zonas industriais, à distância da velha urbis, mas planificar bairros residenciais correspondentes. Foi a primeira vez que uma metrópole se tornou cidade-dormitório do seu subúrbio industrial. Uma atividade fabril de elite era concentrada, enquanto os trabalhadores foram espalhados na cidade grande. Assim, através da ocupação dos municípios vizinhos, a região metropolitana era segmentada, enquanto Salvador era puxada para suas extremidades. Criam-se novos vazios, ainda mais valiosos. Como, porém, a cidade não deixava de receber e de fabricar novos pobres, terrenos desocupados acolheram, no chamado “miolo”, centenas de milhares de moradores.

Agora, a cidade se instala em todos os seus sítios: os litorais, os vales, as encostas, os alagados, os morros, as chácaras, arrabaldes e subúrbios, transformando cada pedaço de chão em dinheiro. Salvador se adensa e verticaliza, ao mesmo tempo em que, metrópole nacional, fortalece suas relações externas, incluído o desenvolvimento do turismo nacional e internacional. Foram necessários 50 anos para que a demografia pudesse dobrar, entre 1900 e 1950. Entre 1950 e 1999, a população urbana quase quintuplica, passando de 650 mil para cerca de 3 milhões de habitantes.

CONTRASTES – A cidade de hoje paga um pesado tributo à forma em que cresceu, em busca da modernização. Cega pela ambição de progresso material, devotou as energias disponíveis ao seu planejamento, deixando, porém, quase tudo o mais à espontaneidade. Daí a agudização dos seus contrastes seculares, opondo uma Salvador imponente e limpa, vista e admirada pelos que passam, domesticada em nome da modernidade, habitada pelas atividades e camadas favorecidas e pelas novas classes médias, e outra Salvador, dita irregular, carente de serviços, onde se acotovela a maioria, isto é, os mais pobres. A cidade não apenas acolhe os pobres de sua região, mas, produzindo e agravando a separação, ela também, pelo seu próprio funcionamento, cria pobres.

A realidade é pungente, mas será essa uma problemática insolúvel? Não mais estamos à época da celebração do quarto centenário da fundação de Salvador, em 1949, quando, diante das promessas de riqueza e da permanência do atraso, as elites mostravam sua perplexidade, falando de um “enigma baiano”. Já não é mais difícil localizar os problemas, enumerar suas causas e diagnosticar os remédios. Já sabemos como se formaram, evoluindo juntas, ainda que se dando as costas, essas cidades todas justapostas, contidas em Salvador. Urge, agora, quando festejamos seus 450 anos (nota do editor: época da publicação original desse artigo, em 1999), encontrar as forças para pensar, de modo unitário, um novo planejamento, talvez menos urbanístico e mais urbano; e certamente mais social e mais humano.














sábado, 27 de outubro de 2012

PELOS CAMINHOS DE SALVADOR

Centro da cidade, uma visão da nova e da velha Salvador
Cidade cheia de contrastes são muitos os caminhos, difíceis de percorrer, mas desvendar  os seus mistérios é preciso. Pelos caminhos de Salvador, andar por eles é descobri as belezas que existem nesta cidade, e relembrar ou tentar vislumbrar a cidade que antes no passado já foi sede, e capital muito importante do Brasil colônia de Portugal.  Seus bairros tradicionais, novos ou centenários guardam histórias, e informações preciosas para compreendermos o funcionamento da nossa cidade atualmente, e futuro que nos espera.
 Dique do Tororó
Assim andaremos pelos Caminhos de Salvador, da Ribeira ao Pelô, Itapuã ao Subúrbio Ferroviário, Calçada, Comércio, Corredor da Vitória, Farol da Barra, desce ladeira, sobe também, dá uma Preguiça, quem me dera um Contorno, pra chegar ao Campo grande, sem me esquecer de passar pela Avenida Oceânica, e das horas que se passam, pois vejo no relógio de São Pedro, que o tempo passa, e até a praça do poeta Castro Alves, essa não é mais do povo, ficou no passado, e ali bem ao seu lado São Bento, e a Barroquinha, já passei muito por lá, o corredor das lojas, sempre movimentado, agora tão parado, mas deixando de lado a nostalgia, o Aquidabã é logo ali, na Sete Portas vejo passar Brotas de relance nesse meu olhar, sigo em frente antes de ir para o Cabula, o que vejo, é sim um engarrafamento logo ali na Rotula do Abacaxi, daqui também dá pra ver o velho Shopping Iguatemi, também os prédios da Tancredo Neves, e Caminhos das Árvores, que se diga aqui é uma área nobre, esse nome Tancredo Neves é de do bairro popular, o antigo bairro do Beiru, muito populoso, com muita gente ali habitar. Nessa caminha sigo vejo as retas então são Paralela, seus novos prédios que substituem as antigas árvores, matas, que nos fazia sentir uma grande Paz, isso sim um Bairro da Paz, no lugar aonde começou com nome de guerra as Malvinas, mas logo ali esta as Mussurungas, isso mesmo são duas, seguindo neste sentido chegaremos ao Aeroporto, antes passamos por São Cristovão.
Ladeira da Montanha
Fico a pensar nos seus caminhos Salvador, por onde passei, e ainda irei passar. Tantos são os seus caminhos, então passearia eternamente nas suas ruas, avenidas, becos, viveria para andar pelos seus caminhos Salvador.

domingo, 12 de agosto de 2012

Conjuração Baiana(A Revolução que não foi)

No dia 12 de agosto de 1798, panfletos declaravam a Conjuração Baiana


Em 1797, já se podia sentir na província da Bahia uma certa preocupação por parte do governo colonial. Pela capital circulavam boatos de que os ideais da Revolução Francesa, como o republicanismo, estavam se espalhando rapidamente. Em poucos meses, o motivo do medo pareceu se materializar.
No dia 12 de agosto de 1798, Salvador acordou com estranhos panfletos pregados em vários locais. Neles havia um manifesto que reivindicava desde o aumento do soldo das tropas até o fim do domínio colonial português. Defendia ainda uma “República Bahiense”, na qual “todos serão iguais, não haverá diferença, só haverá liberdade, igualdade e fraternidade”. Estava declarada a Conjuração Baiana, que tinha entre seus membros alfaiates e soldados.
Poucos dias depois, o soldado Luís Gonzaga das Virgens foi preso, acusado de ser o autor dos pasquins revolucionários. Isto precipitou uma tentativa de motim de outros participantes do movimento, no dia 25. Mas a iniciativa foi duramente reprimida pelas autoridades. Em novembro do ano seguinte, quatro réus foram enforcados, entre eles o soldado Luís.
Fonte:
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/almanaque/a-revolucao-que-nao-foi-1

quinta-feira, 12 de julho de 2012

A CAIXA DE PANDORA (Só nos restou a ESPERANÇA)

 

A primeira mulher chamava-se Pandora. Foi feita no céu, e cada um dos deuses contribuiu com alguma coisa para aperfeiçoá-la. Vênus deu-lhe a beleza, Mercúrio, a persuasão, Apolo, a música etc. Assim dotada, a mulher foi mandada à Terra e oferecida a Epimeteu, que de boa vontade a aceitou, embora advertido pelo irmão para ter cuidado com Júpiter e seus presentes. Epimeteu tinha em sua casa uma caixa, na qual guardava certos artigos malignos, de que não se utilizara ao preparar o homem para sua nova morada. Pandora foi tomada por intensa curiosidade de saber o que continha naquela caixa, e, certo dia, destampou-a para olhar. Assim, escapou e se espalhou por toda a parte uma multidão de pragas que atingiram o desgraçado homem, tais como a gota, o reumatismo e a eólica, para o corpo, e a inveja, o despeito e a vingança, para o espírito. Pandora apressou-se em colocar a tampa na caixa, mas, infelizmente, escapara todo o conteúdo da mesma, com exceção de uma única coisa, que ficara no fundo, e que era a esperança. Assim, sejam quais forem os males que nos ameacem a esperança não nos deixa inteiramente; e, enquanto a tivermos, nenhum mal nos torna inteiramente desgraçados.

Uma outra versão é a de que Pandora foi mandada por Júpiter com boa intenção, a fim de agradar ao homem. O rei dos deuses entregou-lhe, como presente de casamento, uma caixa, em que cada deus colocara um bem. Pandora abriu a caixa, inadvertidamente, e todos os bens escaparam, exceto a esperança. Essa versão é, sem dúvida, mais aceitável do que a primeira. Realmente, como poderia a esperança, jóia tão preciosa quanto é, ter sido misturada a toda a sorte de males, como na primeira versão?

Texto e imagem extraídos do Livro de Ouro da Mitologia (A Idade da Fábula)
Paginas 20, 21, e 22.

terça-feira, 10 de julho de 2012

MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Previsões

Cientistas prevêem que a Terra vai aquecer de 1,4ºC a 5,8ºC até o ano 2100.

A maioria dos cientistas culpam - pelo menos em parte - o aumento da quantidade de certos gases emitidos pela queima de combustível fóssil e por outras atividades humanas.

Efeito Estufa

O efeito estufa é um processo natural em que a atmosfera absorve energia solar, aquecendo a Terra o suficiente para que possa abrigar vida.

Muitos cientistas acreditam que as atividades humanas que aumentam os "gases do efeito estufa" estão provocando um aquecimento exagerado da atmosfera.

Entre esses gases estão o dióxido de carbono, emitido pela queima de combustível fóssil e pelo desmatamento, e o metano, emitido em campos de arroz irrigado e de depósitos de lixo.

Gás Carbônico


O dióxido de carbono (CO2) é o "gás do efeito estufa" que mais preocupa. Uma quantidade limitada de carbono é encontrada em combustíveis fósseis, no mar, em seres vivos e na atmosfera.

Sem a influência humana, a transferência entre esses depósitos sempre foi balanceada - por exemplo, as plantas absorvem o gás carbônico durante a fotossíntese, e emitem quando se decompõem.

Mas com atividades humanas como o desmatamento e a queima de combustível fóssil, uma quantidade extra de gás carbônico é emitida, aumentando o efeito estufa.

Efeitos 'feedback'

1. Superfície coberta de gelo reflete fortemente a radiação solar.

2. À medida que um pouco de gelo derrete, menos radiação solar é refletida.

3. Isso provoca mais aquecimento, o que faz com que mais gelo derreta.

4. A camada de gelo é reduzida, o que faz com que a formação de novas camadas seja cada vez mais difícil.

O aquecimento vai provocar alguns processos que vão ampliar ainda mais o aquecimento (feedback positivo), e outros que vão reduzir esse efeito (feedback negativo).

O equilíbrio entre esses feedbacks ainda é incerto nas previsões climáticas.

Por exemplo, como mostra a imagem acima, a diminuição da camada de gelo pode significar que as terras expostas absorvam mais energia e acelerem o aquecimento da atmosfera.

Por outro lado, a absorção de gás carbônico pelas plantas deve aumentar com o aumento da temperatura, o que pode de alguma maneira agir contra o processo de aquecimento.


Corrente do Golfo

1. As correntes de superfície carregam a água quente e salgada dos trópicos.

2. A água fria dos pólos desce ao fundo do oceano.

3. Esta água fria volta ao equador, formando, assim, um ciclo contínuo: dos pólos ao equador a água é fria e pesada, e do equador aos pólos, ela é quente e superficial. Por esse processo, a Corrente do Golfo aquece o norte da Europa.

4. A água proveniente do derretimento do gelo dilui a água quente e salgada vinda dos trópicos.

5. A água se torna menos densa e não afunda rapidamente, prejudicando o ciclo e, conseqüentemente, a Corrente do Golfo.

Mudanças dramáticas de temperatura aconteceram no passado, grande parte delas devido a transformações na maioria das correntes marinhas.

Um "ciclo contínuo" do oceano ajuda a transportar calor ao redor do globo pelos movimentos profundos e de superfície da água.

Cientistas estão analisando se o aquecimento global poderia diminuir ou acabar com esse ciclo - um fator considerado de "baixa probabilidade, mas de grande impacto".

Isso poderia interromper a maioria das correntes de superfície, movidas pelo vento, como a Corrente do Golfo.




Fonte:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/1126_clima/page5.shtml

sábado, 7 de julho de 2012

Mito da Caverna:Uma reflexão atual



O Mito da Caverna, ou Alegoria da Caverna, foi escrito pelo filósofo Platão e está contido em “A República”, no livro VII. Na alegoria narra-se o diálogo de Sócrates com Glauco e Adimato. É um dos textos mais lidos no mundo filosófico.
Platão utilizou a linguagem mítica para mostrar o quanto os cidadãos estavam presos a certas crendices e superstições. Para lembrar, apresento uma forma reelaborada do mito. A história narra a vida de alguns homens que nasceram e cresceram dentro de uma caverna e ficavam voltados para o fundo dela. Ali contemplavam uma réstia de luz que refletia sombras no fundo da parede. Esse era o seu mundo. Certo dia, um dos habitantes resolveu voltar-se para o lado de fora da caverna e logo ficou cego devido à claridade da luz. E, aos poucos, vislumbrou outro mundo com natureza, cores, “imagens” diferentes do que estava acostumado a “ver”. Voltou para a caverna para narrar o fato aos seus amigos, mas eles não acreditaram nele e revoltados com a “mentira” o mataram.
Com essa alegoria, Platão divide o mundo em duas realidades: a sensível, que se percebe pelos sentidos, e a inteligível (o mundo das ideias). O primeiro é o mundo da imperfeição e o segundo encontraria toda a verdade possível para o homem. Assim o ser humano deveria procurar o mundo da verdade para que consiga atingir o bem maior para sua vida. Em nossos dias, muitas são as cavernas em que nos envolvemos e pensamos ser a realidade absoluta.
Quando aplicada em sala de aula, tal alegoria resulta em boas reflexões. A tendência é a elaboração de reflexões aplicadas a diversas situações do cotidiano, em que o mundo sensível (a caverna) é comparado às situações como o uso de drogas, manipulação dos meios de comunicação e do sistema capitalista, desrespeito aos direitos humanos, à política, etc. Ao materializar e contextualizar o entendimento desse mito é possível debater sobre o resgate de valores como família, amizade, direitos humanos, solidariedade e honestidade, que podem aparecer como reflexões do mundo ideal.
É perfeitamente possível relacionar a filosofia platônica, sobretudo o mito da caverna, com nossa realidade atual. A partir desta leitura, é possível fazer uma reflexão extremamente proveitosa e resgatar valores de extrema importância para a Filosofia. Além disso, ajuda na formulação do senso crítico e é um ótimo exercício de interpretação de texto. A relevância e atualidade do mito não surpreende: muitas informações denunciam a alienação humana, criam realidades paralelas e alheias. Mas até quando alguns escolherão o fundo da caverna? Será que é uma pré-disposição ao engano ou puro comodismo? O Mito da Caverna é um convite permanente à reflexão.

Pablo Fabiano B. Carneiro é professor de Filosofia e História Geral e do Brasil para Ensino Médio. Coautor do livro “Coisas da Filosofia e Fatos Sociais”, Editora Allprint

sexta-feira, 6 de julho de 2012

O Sertanejo




O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral. A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.

É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. A pé, quando parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que encontra; a cavalo, se sofreia o animal para trocar duas palavras com um conhecido, cai logo sobre um dos estribos, descansando sobre a espenda da sela. Caminhando, mesmo a passo rápido, não traça trajetória retilínea e firme. Avança celeremente, num bambolear característico, de que parecem ser o traço geométrico os meandros das trilhas sertanejas. E se na marcha estaca pelo motivo mais vulgar, para enrolar um cigarro, bater o isqueiro, ou travar ligeira  conversa com um amigo, cai logo — cai é o termo — de cócoras, atravessando largo tempo numa posição de equilíbrio instável, em que todo o seu corpo fica suspenso pelos dedos grandes dos pés, sentado sobre os calcanhares, com uma simplicidade a um tempo ridícula e adorável.
É o homem permanentemente fatigado.
Reflete a preguiça invencível, a atonia muscular perene, em tudo: na palavra remorada, no gesto contrafeito, no andar desaprumado, na cadência langorosa das modinhas, na tendência constante à imobilidade e à quietude.
Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude.
Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso. Naquela organização combalida operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se. Empertiga-se, estadeando novos relevos, novas linhas na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se-lhe, alta, sobre os ombros possantes aclarada pelo olhar desassombrado e forte; e corrigem-se-lhe, prestes, numa descarga nervosa instantânea, todos os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos; e da figura vulgar do tabaréu canhestro reponta, inesperadamente, o  aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade  extraordinárias.
Este contraste impõe-se ao mais leve exame. Revela-se a todo o momento, em  todos os pormenores da vida sertaneja — caracterizado sempre pela intercadência impressionadora entre extremos impulsos e apatias longas.

É impossível idear-se cavaleiro mais chucro e deselegante; sem posição, pernas coladas ao bojo da montaria, tronco pendido para a frente e oscilando à feição da andadura dos pequenos cavalos do sertão, desferrados e maltratados, resistentes e rápidos como poucos. Nesta atitude indolente, acompanhando morosamente, a passo, pelas chapadas, o passo tardo das boiadas, o vaqueiro preguiçoso quase transforma o “campeão” que cavalga na rede amolecedora em que atravessa dois terços da existência.

Trecho do livro Os Sertões de Euclides da Cunha, versão disponível em www.nead.unama.br
Figuras:http://acxmassa.blogspot.com.br/2011/03/sertanejo-um-poema-terra.html

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Nascidos em 4 de Julho (Independência dos EUA)

Sonhando com o inimigo

Para se viabilizar como nação, americanos elegem adversários – indígenas, comunistas e terroristas – desde a Independência, em em 4 de julho de 1776

Leandro Karnal



Tendo atrás a estátua do presidente Lincoln e à frente o obelisco que homenageia George Washington, em 28 de agosto de 1963 o pastor Martin Luther King Jr. fez um discurso histórico: “Eu tenho um sonho”.  Combatendo o racismo da sociedade norte-americana, o futuro Prêmio Nobel da Paz usou uma imagem interessante para definir o episódio da Declaração de Independência dos Estados Unidos, de 1776: uma espécie de cheque a ser descontado pelas gerações futuras do país.
O líder dos direitos civis explicou que o cheque, levado ao banco por mãos negras, voltou com a marca “fundos insuficientes”.  O discurso foi um protesto contra este estelionato, pois os afrodescendentes ainda lutavam por seu 4 de julho, 187 anos depois da ruptura com a Inglaterra. Em defesa do voto feminino, mulheres recorreram a argumentos semelhantes, assim como os conservadores do século XXI do Tea Party – grupo político republicano conservador – invocam o espírito da Independência ao proclamar suas ideias e projetos.
 Esse sentimento vem de longe. Fundadas no século XVII, as 13 colônias inglesas da América do Norte foram abandonadas à própria sorte, pois a Inglaterra estava ocupadíssima com crises internas, especialmente a sua guerra civil, quando o Parlamento liderou a luta contra o absolutismo dos reis Stuart. No século XVIII, tudo mudara. Estável e rica, a Inglaterra dava os primeiros passos da industrialização.  As colônias teriam um novo papel.
John Hancock chegou a exagerar o tamanho da assinatura na Declaração
para o rei George III ler com clareza, um gesto ousado de humor
Foi a partir de 1764, quando o Parlamento de Londres endureceu e reafirmou seu papel de metrópole no controle das colônias, que as lideranças do Novo Mundo iniciaram os boicotes e protestos violentos contra a ordem reinstaurada. As leis inglesas passaram a restringir o comércio e a liberdade das colônias americanas, como a lei do açúcar e a do chá. As hostilidades evoluíram para choques armados e, em 4 de julho de 1776, para espanto do mundo, congressistas reunidos na Filadélfia proclamaram a Independência, fato até então inusitado no Novo Mundo. O princípio revolucionário de que “todos os homens foram criados livres e iguais” tornara-se concreto pela primeira vez na História.
Quando homens brancos e ricos puseram suas assinaturas na declaração formal de independência, estavam rompendo o modelo político colônia-metrópole. John Hancock (1737–1793) chegou a exagerar o tamanho da assinatura para o rei George III ler com clareza, um gesto ousado de humor, porque todos conheciam a força do império. A posteridade, no entanto, rendeu homenagem à ousadia e Hancock virou sinônimo de assinatura.
Para nós, brasileiros, a comparação é interessante [Ver RHBN nº 66]. O gesto simbólico da nossa Independência de 1822 foi pintado em “O grito do Ipiranga” somente em 1888, por Pedro Américo. No quadro, foi cristalizado o imaginário bem digerido em textos didáticos e em filmes: D. Pedro grita, de forma romântica e passional: “Independência ou Morte!” Já a cena da Filadélfia, também representada no século XIX por John Trumbull (1756-1843), recorre à tinta racional: homens discutem e definem os motivos pelos quais são levados ao ato da ruptura. Dois momentos e dois países diferentes.
O príncipe Pedro estabeleceu mais um slogan do que um programa. Os EUA nasceram a partir de uma declaração pormenorizada, com princípios iluministas de liberdade para todos, igualdade, e considerando a felicidade como um direito universal. O que ocorreu nos séculos seguintes foi, sistematicamente, a busca desta utopia. Uma espécie de guia para deixar uma construção teórica e formal de liberdade e caminhar na direção de conquistas concretas, como a do voto feminino ou dos direitos dos negros. Querendo ou não, fazendeiros, escravocratas, comerciantes e profissionais liberais daquele salão na Filadélfia estabeleceram a base de uma agenda de 200 anos de protestos.
Diferentemente do processo americano, a Independência do Brasil foi apropriada pelo Estado e, apesar da participação popular em alguns episódios, como as lutas da Bahia [Ver RHBN nº 48], sempre foi considerada herança governamental e responsabilidade oficial. O processo de ruptura entre as 13 colônias e a Coroa britânica foi incorporado mais amplamente. O 7 de setembro (lembrança da independência brasileira) e o 4 de julho (norte-americana) sempre seriam muito diferentes: oficial o primeiro e popular o segundo.
Na própria Declaração de Independência,
os colonos reconhecem que seria melhor deixar tudo como estava
Da memória da independência dos EUA retiram-se metáforas, exemplos e propostas de ação que servem desde recusa conservadora da presença do Estado na economia, como prega o Tea Party, até a proposta de maior inclusão do negro na sociedade, caso do “Eu tenho um sonho”.  Nos dois casos, a disputa pela memória existe porque o processo é muito amplo e permite adaptações e usos diversos. É possível exigir, como fez Martin Luther King, que o Estado promova uma política efetiva contra a segregação racial em nome dos “pais fundadores”. Também é igualmente possível exigir que o Estado não lance novos impostos, respeite a iniciativa privada e o direito do indivíduo de prosperar. Desta maneira, 1776 é um signo aberto, ou seja, pode ser associado a diversos contextos. Cada momento ou grupo conseguiu, quase livremente, constituir seu ideal do que tenha sido a “essência” do 4 de julho.
Como toda unidade nacional, a dos EUA foi fruto de elaboração variada e histórica. Para formar uma nação com um mínimo de coesão, foi sempre necessário combater um perigo externo: os ingleses do século XVIII, os índios do XIX, os comunistas do XX ou os atuais “terroristas islâmicos” deste início do XXI. Todos serviram de poderosos catalisadores para viabilizar a nação.
A realidade das 13 colônias era de profunda variedade religiosa, econômica e social. Em 1776, não havia nada próximo de um país. O esforço inicial dos colonos no processo de luta contra o Parlamento inglês foi o de pertencimento. Seus documentos pedem reconhecimento de seus direitos como parte viva e igual do império britânico. Na própria Declaração de Independência, os colonos reconhecem que seria melhor deixar tudo como estava, já que não havia um sentido claro da Coroa britânica em prejudicá-los.
  Feita a Independência, restava o desafio de construir uma nação. Valores como igualdade tinham de ser redefinidos dentro de limites socialmente seguros. Símbolos deveriam ser inventados. Tratava-se de dar forma a uma comunidade surgida a partir de uma guerra.
O país que tinha nascido sem nome teria sua diversidade aumentada enormemente com a imigração. Como constituir uma nação e criar instituições com navios despejando lituanos, italianos, espanhóis e irlandeses todos os dias? Sem resolver a complexa questão, uma das respostas foi a guerra.

Lutar contra o outro forja um dos sentimentos mais intensos de identidade. Permite a um grupo, irredutível na sua alteridade, sentir a continuidade e a força do objetivo comum. O coletivo aumenta a força, justifica a violência e dilui responsabilidades.
A história americana pós-1776 estabeleceu com clareza quem seria o outro, o inimigo, mas nunca conseguiu  definir com nitidez quem seria o americano. Este é o grande desafio até hoje, quando a excepcionalidade americana é cada vez menos reconhecida. Resta o “admirável mundo novo” (brave new world: expressão da peça “A Tempestade”, de Shakespeare), que, por sinal, nasceu de ideias contidas no sonho da Independência dos EUA.

Leandro Karnal é professor de História da América na Universidade de Campinas, autor de Estados Unidos: A formação da nação (Ed. Contexto, 2005) e coautor de História dos Estados Unidos (Contexto, 2007).

Saiba Mais:
BAILYN, Bernard. As origens ideológicas da Revolução América. Bauru: Edusc, 2003.
DARNTON, Robert. Os dentes falsos de George Washington: um guia não convencional para o século XVIII. São Paulo: Cia. da Letras, 2005.
DRIVER, Stephanie Schwartz. A Declaração de Independência dos Estados Unidos. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.
MCCULLOUGH, David. 1776: A história dos homens que lutaram pela independência. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.

Artigo disponivel no site :  
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/especial-independencia-dos-estados-unidos-sonhando-com-o-inimigo

Geografia - Migrações e Processos de urbanização

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Uma breve história da televisão







De onde viria esse feito? Claro que dá América. Os Estados Unidos
sempre foram pioneiros, tanto em coisas boas quando desagradáveis.
Não precisa detalhar muito pois todos sabem os benefícios da
tecnologia.A sua história:

Em 1923 Vladimir Zworykin registra a patente do tubo iconoscópico para câmaras de televisão, o que tornou possível a televisão eletrônica.

O primeiro sistema semi-mecânico de televisão analógica foi demonstrado em Fevereiro de 1924 em Londres, e, posteriormente, imagens em movimento em 30 de outubro de 1925. Um sistema eletrônico completo foi demonstrado por John Logie Baird e Philo Taylor Farnsworth em 1927. O primeiro serviço analógico foi a WGY em Schenectady, Nova Iorque, inaugurado em 11 de maio de 1928. Os primeiros aparelhos de televisão eram rádios com um dispositivo que consistia num tubo de néon com um disco giratório mecânico (disco de Nipkow) que produzia uma imagem vermelha do tamanho de um selo postal. O primeiro serviço de alta definição apareceu na Alemanha em março de 1935, mas estava disponível apenas em 22 salas públicas. Uma das primeiras grandes transmissões de televisão foi a dos Jogos Olímpicos de Berlim de 1936.

O uso da televisão aumentou enormemente depois da Segunda Guerra Mundial devido aos avanços tecnológicos surgidos com as necessidades da guerra e à renda adicional disponível (televisores na década de 1930 custavam o equivalente a 7000 dólares atuais (2001) e havia pouca programação disponível).

A televisão em cores surgiu em 1954, na rede norte-americana NBC. Um ano antes o governo dos Estados Unidos aprovou o sistema de transmissão em cores proposto pela rede CBS, mas quando a RCA apresentou um novo sistema que não exigia alterações nos aparelhos antigos em preto e branco, a CBS abandonou sua proposta em favor da nova.

Em 1960 a japonesa SONY introduz no mercado os receptores de televisão com transistores. O satélite Telstar transmite sinais de televisão através do Oceano Atlântico em 1962. A miniaturização chegou em 1979 quando a Matsushita registrou a patente da televisão de bolso com ecrã plano.

No Brasil, a primeira transmissão de televisão deu-se por conta do leopoldinense Olavo Bastos Freire, que construiu os equipamentos necessários e transmitiu uma partida de futebol em 28 de setembro de 1948, na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais.


Fonte: http://www.portaljvd.com.br/em-1962-acontecia-a-primeira-transmissao-de-tv-viasatelite/

terça-feira, 26 de junho de 2012

Africa e sua Geografia histórica: aspectos fisicos.

É difícil, sem dúvida, separar a história africana de seu cenário geográfico. No entanto, seria inútil apoiarse em reflexões deterministas para compreender, em  toda a sua complexidade, as relações estabelecidas entre as sociedades africanas e seu respectivo meio ambiente. Cada comunidade, de fato, reagiu de maneira peculiar em relação ao meio. Assim, as tentativas mais ou menos bem sucedidas de ordenação do espaço testemunham, aqui e ali, o grau de organização dos homens e a eficácia de suas técnicas de exploração dos recursos locais. Para uma África em mudança, porém, é importante examinar determinadas particularidades geográficas capazes de elucidar os principais acontecimentos que marcaram a longa perspectiva
geohistórica do continente.



                                           



Com respeito a este ponto, as características da arquitetura da África como um todo, sua extraordinária zonalidade climática e a originalidade de seus meios naturais constituem heranças que impediram ou facilitaram a atividade humana, sem jamais determinar seu desenvolvimento.
Decididamente, nada é simples nas relações íntimas entre a natureza africana e os homens que a ocupam, exploram, ordenam e transformam de acordo com sua organização política, recursos técnicos e interesses econômicos. A África aparece como um velho continente que, desde épocas remotas, foi ocupado por povos que cedo desenvolveram esplêndidas civilizações.
A geografia africana, tanto em seus aspectos estruturais como em seus meios naturais, mostra traços vigorosos herdados de um longo passado geológico. O espaço africano é mais maciço e continental do que qualquer outro. Vastas regiões no coração do continente, a uma distância de mais de 1500 km do mar, permaneceram durante muito tempo à margem das grandes correntes
de circulação, o que explica a importância das depressões meridianas, como o Rift Valley da África oriental, para a fixação do homem desde a PreHistória. O isolamento geográfico acentuouse nas proximidades dos trópicos devido às variações climáticas do Terciário e do Quaternário. Durante milhares de anos, o Saara úmido foi um dos maiores centros de povoamento do mundo. Mais tarde, os períodos secos contribuíram para a formação de imensos desertos como o Saara e o Calaari. Os intercâmbios de todo tipo entre as diversas civilizações do continente foram, por conseguinte, prejudicados, mas não interrompidos. Dessa forma, o clima constitui um fator essencial para a compreensão do passado africano. Ademais, os ritmos pluviométricos e os meios bioclimáticos exercem uma influência efetiva na vida do homem atual. As sociedades africanas tiraram proveito da complementaridade das zonas climáticas para estabelecer entre si as correntes de intercâmbio mais antigas e vigorosas. Finalmente, a história da África foi particularmente influenciada pela riqueza mineral, que constitui um dos principais fatores da atração que o continente sempre exerceu sobre os povos conquistadores. Assim, o ouro da Núbia e de Kush foi explorado pelas dinastias do antigo Egito. Mais tarde, o ouro da África tropical, principalmente da região sudanesa e do Zimbabwe, tornouse fonte de prosperidade das sociedades do norte da África e do Oriente Próximo e suporte dos grandes impérios africanos do sul do Saara. Em tempos remotos, o ferro foi objeto de troca entre a floresta e as regiões tropicais da África. As salinas da orla do Saara tiveram um papel
importante nas relações entre os Estados negros do Sudão e dos povos arabeberberes do norte da África. Mais recentemente, a riqueza mineral da África tem sido explorada pelas potências coloniais. Atualmente é, em grande parte, exportada como materiaprima.


Texto extraido de :
Metodologia e pré-história da África EDITOR J. KI-ZERBO
UNESCO Representação VOLUME I cap. 13 Geografia histórica: aspectos físicos-S. Diarra, pag.345,347,364 e 365. Mapa África física (segundo J. KiZerbo,1978