É difícil, sem dúvida, separar a história africana de seu cenário geográfico. No entanto, seria inútil apoiar‑se em reflexões deterministas para compreender, em toda a sua complexidade, as relações estabelecidas entre as sociedades africanas e seu respectivo meio ambiente. Cada comunidade, de fato, reagiu de maneira peculiar em relação ao meio. Assim, as tentativas mais ou menos bem sucedidas de ordenação do espaço testemunham, aqui e ali, o grau de organização dos homens e a eficácia de suas técnicas de exploração dos recursos locais. Para uma África em mudança, porém, é importante examinar determinadas particularidades geográficas capazes de elucidar os principais acontecimentos que marcaram a longa perspectiva
geo‑histórica do continente.
Com respeito a este ponto, as características da arquitetura da África como um todo, sua extraordinária zonalidade climática e a originalidade de seus meios naturais constituem heranças que impediram ou facilitaram a atividade humana, sem jamais determinar seu desenvolvimento.
Decididamente, nada é simples nas relações íntimas entre a natureza africana e os homens que a ocupam, exploram, ordenam e transformam de acordo com sua organização política, recursos técnicos e interesses econômicos. A África aparece como um velho continente que, desde épocas remotas, foi ocupado por povos que cedo desenvolveram esplêndidas civilizações.
A geografia africana, tanto em seus aspectos estruturais como em seus meios naturais, mostra traços vigorosos herdados de um longo passado geológico. O espaço africano é mais maciço e continental do que qualquer outro. Vastas regiões no coração do continente, a uma distância de mais de 1500 km do mar, permaneceram durante muito tempo à margem das grandes correntes
de circulação, o que explica a importância das depressões meridianas, como o Rift Valley da África oriental, para a fixação do homem desde a Pre‑História. O isolamento geográfico acentuou‑se nas proximidades dos trópicos devido às variações climáticas do Terciário e do Quaternário. Durante milhares de anos, o Saara úmido foi um dos maiores centros de povoamento do mundo. Mais tarde, os períodos secos contribuíram para a formação de imensos desertos como o Saara e o Calaari. Os intercâmbios de todo tipo entre as diversas civilizações do continente foram, por conseguinte, prejudicados, mas não interrompidos. Dessa forma, o clima constitui um fator essencial para a compreensão do passado africano. Ademais, os ritmos pluviométricos e os meios bioclimáticos exercem uma influência efetiva na vida do homem atual. As sociedades africanas tiraram proveito da complementaridade das zonas climáticas para estabelecer entre si as correntes de intercâmbio mais antigas e vigorosas. Finalmente, a história da África foi particularmente influenciada pela riqueza mineral, que constitui um dos principais fatores da atração que o continente sempre exerceu sobre os povos conquistadores. Assim, o ouro da Núbia e de Kush foi explorado pelas dinastias do antigo Egito. Mais tarde, o ouro da África tropical, principalmente da região sudanesa e do Zimbabwe, tornou‑se fonte de prosperidade das sociedades do norte da África e do Oriente Próximo e suporte dos grandes impérios africanos do sul do Saara. Em tempos remotos, o ferro foi objeto de troca entre a floresta e as regiões tropicais da África. As salinas da orla do Saara tiveram um papel
importante nas relações entre os Estados negros do Sudão e dos povos arabe‑berberes do norte da África. Mais recentemente, a riqueza mineral da África tem sido explorada pelas potências coloniais. Atualmente é, em grande parte, exportada como materia‑prima.
Texto extraido de :
Metodologia e pré-história da África EDITOR J. KI-ZERBO
UNESCO Representação VOLUME I cap. 13 Geografia histórica: aspectos físicos-S. Diarra, pag.345,347,364 e 365. Mapa África física (segundo J. Ki‑Zerbo,1978
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