quinta-feira, 12 de julho de 2012

A CAIXA DE PANDORA (Só nos restou a ESPERANÇA)

 

A primeira mulher chamava-se Pandora. Foi feita no céu, e cada um dos deuses contribuiu com alguma coisa para aperfeiçoá-la. Vênus deu-lhe a beleza, Mercúrio, a persuasão, Apolo, a música etc. Assim dotada, a mulher foi mandada à Terra e oferecida a Epimeteu, que de boa vontade a aceitou, embora advertido pelo irmão para ter cuidado com Júpiter e seus presentes. Epimeteu tinha em sua casa uma caixa, na qual guardava certos artigos malignos, de que não se utilizara ao preparar o homem para sua nova morada. Pandora foi tomada por intensa curiosidade de saber o que continha naquela caixa, e, certo dia, destampou-a para olhar. Assim, escapou e se espalhou por toda a parte uma multidão de pragas que atingiram o desgraçado homem, tais como a gota, o reumatismo e a eólica, para o corpo, e a inveja, o despeito e a vingança, para o espírito. Pandora apressou-se em colocar a tampa na caixa, mas, infelizmente, escapara todo o conteúdo da mesma, com exceção de uma única coisa, que ficara no fundo, e que era a esperança. Assim, sejam quais forem os males que nos ameacem a esperança não nos deixa inteiramente; e, enquanto a tivermos, nenhum mal nos torna inteiramente desgraçados.

Uma outra versão é a de que Pandora foi mandada por Júpiter com boa intenção, a fim de agradar ao homem. O rei dos deuses entregou-lhe, como presente de casamento, uma caixa, em que cada deus colocara um bem. Pandora abriu a caixa, inadvertidamente, e todos os bens escaparam, exceto a esperança. Essa versão é, sem dúvida, mais aceitável do que a primeira. Realmente, como poderia a esperança, jóia tão preciosa quanto é, ter sido misturada a toda a sorte de males, como na primeira versão?

Texto e imagem extraídos do Livro de Ouro da Mitologia (A Idade da Fábula)
Paginas 20, 21, e 22.

terça-feira, 10 de julho de 2012

MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Previsões

Cientistas prevêem que a Terra vai aquecer de 1,4ºC a 5,8ºC até o ano 2100.

A maioria dos cientistas culpam - pelo menos em parte - o aumento da quantidade de certos gases emitidos pela queima de combustível fóssil e por outras atividades humanas.

Efeito Estufa

O efeito estufa é um processo natural em que a atmosfera absorve energia solar, aquecendo a Terra o suficiente para que possa abrigar vida.

Muitos cientistas acreditam que as atividades humanas que aumentam os "gases do efeito estufa" estão provocando um aquecimento exagerado da atmosfera.

Entre esses gases estão o dióxido de carbono, emitido pela queima de combustível fóssil e pelo desmatamento, e o metano, emitido em campos de arroz irrigado e de depósitos de lixo.

Gás Carbônico


O dióxido de carbono (CO2) é o "gás do efeito estufa" que mais preocupa. Uma quantidade limitada de carbono é encontrada em combustíveis fósseis, no mar, em seres vivos e na atmosfera.

Sem a influência humana, a transferência entre esses depósitos sempre foi balanceada - por exemplo, as plantas absorvem o gás carbônico durante a fotossíntese, e emitem quando se decompõem.

Mas com atividades humanas como o desmatamento e a queima de combustível fóssil, uma quantidade extra de gás carbônico é emitida, aumentando o efeito estufa.

Efeitos 'feedback'

1. Superfície coberta de gelo reflete fortemente a radiação solar.

2. À medida que um pouco de gelo derrete, menos radiação solar é refletida.

3. Isso provoca mais aquecimento, o que faz com que mais gelo derreta.

4. A camada de gelo é reduzida, o que faz com que a formação de novas camadas seja cada vez mais difícil.

O aquecimento vai provocar alguns processos que vão ampliar ainda mais o aquecimento (feedback positivo), e outros que vão reduzir esse efeito (feedback negativo).

O equilíbrio entre esses feedbacks ainda é incerto nas previsões climáticas.

Por exemplo, como mostra a imagem acima, a diminuição da camada de gelo pode significar que as terras expostas absorvam mais energia e acelerem o aquecimento da atmosfera.

Por outro lado, a absorção de gás carbônico pelas plantas deve aumentar com o aumento da temperatura, o que pode de alguma maneira agir contra o processo de aquecimento.


Corrente do Golfo

1. As correntes de superfície carregam a água quente e salgada dos trópicos.

2. A água fria dos pólos desce ao fundo do oceano.

3. Esta água fria volta ao equador, formando, assim, um ciclo contínuo: dos pólos ao equador a água é fria e pesada, e do equador aos pólos, ela é quente e superficial. Por esse processo, a Corrente do Golfo aquece o norte da Europa.

4. A água proveniente do derretimento do gelo dilui a água quente e salgada vinda dos trópicos.

5. A água se torna menos densa e não afunda rapidamente, prejudicando o ciclo e, conseqüentemente, a Corrente do Golfo.

Mudanças dramáticas de temperatura aconteceram no passado, grande parte delas devido a transformações na maioria das correntes marinhas.

Um "ciclo contínuo" do oceano ajuda a transportar calor ao redor do globo pelos movimentos profundos e de superfície da água.

Cientistas estão analisando se o aquecimento global poderia diminuir ou acabar com esse ciclo - um fator considerado de "baixa probabilidade, mas de grande impacto".

Isso poderia interromper a maioria das correntes de superfície, movidas pelo vento, como a Corrente do Golfo.




Fonte:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/1126_clima/page5.shtml

sábado, 7 de julho de 2012

Mito da Caverna:Uma reflexão atual



O Mito da Caverna, ou Alegoria da Caverna, foi escrito pelo filósofo Platão e está contido em “A República”, no livro VII. Na alegoria narra-se o diálogo de Sócrates com Glauco e Adimato. É um dos textos mais lidos no mundo filosófico.
Platão utilizou a linguagem mítica para mostrar o quanto os cidadãos estavam presos a certas crendices e superstições. Para lembrar, apresento uma forma reelaborada do mito. A história narra a vida de alguns homens que nasceram e cresceram dentro de uma caverna e ficavam voltados para o fundo dela. Ali contemplavam uma réstia de luz que refletia sombras no fundo da parede. Esse era o seu mundo. Certo dia, um dos habitantes resolveu voltar-se para o lado de fora da caverna e logo ficou cego devido à claridade da luz. E, aos poucos, vislumbrou outro mundo com natureza, cores, “imagens” diferentes do que estava acostumado a “ver”. Voltou para a caverna para narrar o fato aos seus amigos, mas eles não acreditaram nele e revoltados com a “mentira” o mataram.
Com essa alegoria, Platão divide o mundo em duas realidades: a sensível, que se percebe pelos sentidos, e a inteligível (o mundo das ideias). O primeiro é o mundo da imperfeição e o segundo encontraria toda a verdade possível para o homem. Assim o ser humano deveria procurar o mundo da verdade para que consiga atingir o bem maior para sua vida. Em nossos dias, muitas são as cavernas em que nos envolvemos e pensamos ser a realidade absoluta.
Quando aplicada em sala de aula, tal alegoria resulta em boas reflexões. A tendência é a elaboração de reflexões aplicadas a diversas situações do cotidiano, em que o mundo sensível (a caverna) é comparado às situações como o uso de drogas, manipulação dos meios de comunicação e do sistema capitalista, desrespeito aos direitos humanos, à política, etc. Ao materializar e contextualizar o entendimento desse mito é possível debater sobre o resgate de valores como família, amizade, direitos humanos, solidariedade e honestidade, que podem aparecer como reflexões do mundo ideal.
É perfeitamente possível relacionar a filosofia platônica, sobretudo o mito da caverna, com nossa realidade atual. A partir desta leitura, é possível fazer uma reflexão extremamente proveitosa e resgatar valores de extrema importância para a Filosofia. Além disso, ajuda na formulação do senso crítico e é um ótimo exercício de interpretação de texto. A relevância e atualidade do mito não surpreende: muitas informações denunciam a alienação humana, criam realidades paralelas e alheias. Mas até quando alguns escolherão o fundo da caverna? Será que é uma pré-disposição ao engano ou puro comodismo? O Mito da Caverna é um convite permanente à reflexão.

Pablo Fabiano B. Carneiro é professor de Filosofia e História Geral e do Brasil para Ensino Médio. Coautor do livro “Coisas da Filosofia e Fatos Sociais”, Editora Allprint

sexta-feira, 6 de julho de 2012

O Sertanejo




O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral. A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.

É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. A pé, quando parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que encontra; a cavalo, se sofreia o animal para trocar duas palavras com um conhecido, cai logo sobre um dos estribos, descansando sobre a espenda da sela. Caminhando, mesmo a passo rápido, não traça trajetória retilínea e firme. Avança celeremente, num bambolear característico, de que parecem ser o traço geométrico os meandros das trilhas sertanejas. E se na marcha estaca pelo motivo mais vulgar, para enrolar um cigarro, bater o isqueiro, ou travar ligeira  conversa com um amigo, cai logo — cai é o termo — de cócoras, atravessando largo tempo numa posição de equilíbrio instável, em que todo o seu corpo fica suspenso pelos dedos grandes dos pés, sentado sobre os calcanhares, com uma simplicidade a um tempo ridícula e adorável.
É o homem permanentemente fatigado.
Reflete a preguiça invencível, a atonia muscular perene, em tudo: na palavra remorada, no gesto contrafeito, no andar desaprumado, na cadência langorosa das modinhas, na tendência constante à imobilidade e à quietude.
Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude.
Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso. Naquela organização combalida operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se. Empertiga-se, estadeando novos relevos, novas linhas na estatura e no gesto; e a cabeça firma-se-lhe, alta, sobre os ombros possantes aclarada pelo olhar desassombrado e forte; e corrigem-se-lhe, prestes, numa descarga nervosa instantânea, todos os efeitos do relaxamento habitual dos órgãos; e da figura vulgar do tabaréu canhestro reponta, inesperadamente, o  aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade  extraordinárias.
Este contraste impõe-se ao mais leve exame. Revela-se a todo o momento, em  todos os pormenores da vida sertaneja — caracterizado sempre pela intercadência impressionadora entre extremos impulsos e apatias longas.

É impossível idear-se cavaleiro mais chucro e deselegante; sem posição, pernas coladas ao bojo da montaria, tronco pendido para a frente e oscilando à feição da andadura dos pequenos cavalos do sertão, desferrados e maltratados, resistentes e rápidos como poucos. Nesta atitude indolente, acompanhando morosamente, a passo, pelas chapadas, o passo tardo das boiadas, o vaqueiro preguiçoso quase transforma o “campeão” que cavalga na rede amolecedora em que atravessa dois terços da existência.

Trecho do livro Os Sertões de Euclides da Cunha, versão disponível em www.nead.unama.br
Figuras:http://acxmassa.blogspot.com.br/2011/03/sertanejo-um-poema-terra.html

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Nascidos em 4 de Julho (Independência dos EUA)

Sonhando com o inimigo

Para se viabilizar como nação, americanos elegem adversários – indígenas, comunistas e terroristas – desde a Independência, em em 4 de julho de 1776

Leandro Karnal



Tendo atrás a estátua do presidente Lincoln e à frente o obelisco que homenageia George Washington, em 28 de agosto de 1963 o pastor Martin Luther King Jr. fez um discurso histórico: “Eu tenho um sonho”.  Combatendo o racismo da sociedade norte-americana, o futuro Prêmio Nobel da Paz usou uma imagem interessante para definir o episódio da Declaração de Independência dos Estados Unidos, de 1776: uma espécie de cheque a ser descontado pelas gerações futuras do país.
O líder dos direitos civis explicou que o cheque, levado ao banco por mãos negras, voltou com a marca “fundos insuficientes”.  O discurso foi um protesto contra este estelionato, pois os afrodescendentes ainda lutavam por seu 4 de julho, 187 anos depois da ruptura com a Inglaterra. Em defesa do voto feminino, mulheres recorreram a argumentos semelhantes, assim como os conservadores do século XXI do Tea Party – grupo político republicano conservador – invocam o espírito da Independência ao proclamar suas ideias e projetos.
 Esse sentimento vem de longe. Fundadas no século XVII, as 13 colônias inglesas da América do Norte foram abandonadas à própria sorte, pois a Inglaterra estava ocupadíssima com crises internas, especialmente a sua guerra civil, quando o Parlamento liderou a luta contra o absolutismo dos reis Stuart. No século XVIII, tudo mudara. Estável e rica, a Inglaterra dava os primeiros passos da industrialização.  As colônias teriam um novo papel.
John Hancock chegou a exagerar o tamanho da assinatura na Declaração
para o rei George III ler com clareza, um gesto ousado de humor
Foi a partir de 1764, quando o Parlamento de Londres endureceu e reafirmou seu papel de metrópole no controle das colônias, que as lideranças do Novo Mundo iniciaram os boicotes e protestos violentos contra a ordem reinstaurada. As leis inglesas passaram a restringir o comércio e a liberdade das colônias americanas, como a lei do açúcar e a do chá. As hostilidades evoluíram para choques armados e, em 4 de julho de 1776, para espanto do mundo, congressistas reunidos na Filadélfia proclamaram a Independência, fato até então inusitado no Novo Mundo. O princípio revolucionário de que “todos os homens foram criados livres e iguais” tornara-se concreto pela primeira vez na História.
Quando homens brancos e ricos puseram suas assinaturas na declaração formal de independência, estavam rompendo o modelo político colônia-metrópole. John Hancock (1737–1793) chegou a exagerar o tamanho da assinatura para o rei George III ler com clareza, um gesto ousado de humor, porque todos conheciam a força do império. A posteridade, no entanto, rendeu homenagem à ousadia e Hancock virou sinônimo de assinatura.
Para nós, brasileiros, a comparação é interessante [Ver RHBN nº 66]. O gesto simbólico da nossa Independência de 1822 foi pintado em “O grito do Ipiranga” somente em 1888, por Pedro Américo. No quadro, foi cristalizado o imaginário bem digerido em textos didáticos e em filmes: D. Pedro grita, de forma romântica e passional: “Independência ou Morte!” Já a cena da Filadélfia, também representada no século XIX por John Trumbull (1756-1843), recorre à tinta racional: homens discutem e definem os motivos pelos quais são levados ao ato da ruptura. Dois momentos e dois países diferentes.
O príncipe Pedro estabeleceu mais um slogan do que um programa. Os EUA nasceram a partir de uma declaração pormenorizada, com princípios iluministas de liberdade para todos, igualdade, e considerando a felicidade como um direito universal. O que ocorreu nos séculos seguintes foi, sistematicamente, a busca desta utopia. Uma espécie de guia para deixar uma construção teórica e formal de liberdade e caminhar na direção de conquistas concretas, como a do voto feminino ou dos direitos dos negros. Querendo ou não, fazendeiros, escravocratas, comerciantes e profissionais liberais daquele salão na Filadélfia estabeleceram a base de uma agenda de 200 anos de protestos.
Diferentemente do processo americano, a Independência do Brasil foi apropriada pelo Estado e, apesar da participação popular em alguns episódios, como as lutas da Bahia [Ver RHBN nº 48], sempre foi considerada herança governamental e responsabilidade oficial. O processo de ruptura entre as 13 colônias e a Coroa britânica foi incorporado mais amplamente. O 7 de setembro (lembrança da independência brasileira) e o 4 de julho (norte-americana) sempre seriam muito diferentes: oficial o primeiro e popular o segundo.
Na própria Declaração de Independência,
os colonos reconhecem que seria melhor deixar tudo como estava
Da memória da independência dos EUA retiram-se metáforas, exemplos e propostas de ação que servem desde recusa conservadora da presença do Estado na economia, como prega o Tea Party, até a proposta de maior inclusão do negro na sociedade, caso do “Eu tenho um sonho”.  Nos dois casos, a disputa pela memória existe porque o processo é muito amplo e permite adaptações e usos diversos. É possível exigir, como fez Martin Luther King, que o Estado promova uma política efetiva contra a segregação racial em nome dos “pais fundadores”. Também é igualmente possível exigir que o Estado não lance novos impostos, respeite a iniciativa privada e o direito do indivíduo de prosperar. Desta maneira, 1776 é um signo aberto, ou seja, pode ser associado a diversos contextos. Cada momento ou grupo conseguiu, quase livremente, constituir seu ideal do que tenha sido a “essência” do 4 de julho.
Como toda unidade nacional, a dos EUA foi fruto de elaboração variada e histórica. Para formar uma nação com um mínimo de coesão, foi sempre necessário combater um perigo externo: os ingleses do século XVIII, os índios do XIX, os comunistas do XX ou os atuais “terroristas islâmicos” deste início do XXI. Todos serviram de poderosos catalisadores para viabilizar a nação.
A realidade das 13 colônias era de profunda variedade religiosa, econômica e social. Em 1776, não havia nada próximo de um país. O esforço inicial dos colonos no processo de luta contra o Parlamento inglês foi o de pertencimento. Seus documentos pedem reconhecimento de seus direitos como parte viva e igual do império britânico. Na própria Declaração de Independência, os colonos reconhecem que seria melhor deixar tudo como estava, já que não havia um sentido claro da Coroa britânica em prejudicá-los.
  Feita a Independência, restava o desafio de construir uma nação. Valores como igualdade tinham de ser redefinidos dentro de limites socialmente seguros. Símbolos deveriam ser inventados. Tratava-se de dar forma a uma comunidade surgida a partir de uma guerra.
O país que tinha nascido sem nome teria sua diversidade aumentada enormemente com a imigração. Como constituir uma nação e criar instituições com navios despejando lituanos, italianos, espanhóis e irlandeses todos os dias? Sem resolver a complexa questão, uma das respostas foi a guerra.

Lutar contra o outro forja um dos sentimentos mais intensos de identidade. Permite a um grupo, irredutível na sua alteridade, sentir a continuidade e a força do objetivo comum. O coletivo aumenta a força, justifica a violência e dilui responsabilidades.
A história americana pós-1776 estabeleceu com clareza quem seria o outro, o inimigo, mas nunca conseguiu  definir com nitidez quem seria o americano. Este é o grande desafio até hoje, quando a excepcionalidade americana é cada vez menos reconhecida. Resta o “admirável mundo novo” (brave new world: expressão da peça “A Tempestade”, de Shakespeare), que, por sinal, nasceu de ideias contidas no sonho da Independência dos EUA.

Leandro Karnal é professor de História da América na Universidade de Campinas, autor de Estados Unidos: A formação da nação (Ed. Contexto, 2005) e coautor de História dos Estados Unidos (Contexto, 2007).

Saiba Mais:
BAILYN, Bernard. As origens ideológicas da Revolução América. Bauru: Edusc, 2003.
DARNTON, Robert. Os dentes falsos de George Washington: um guia não convencional para o século XVIII. São Paulo: Cia. da Letras, 2005.
DRIVER, Stephanie Schwartz. A Declaração de Independência dos Estados Unidos. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.
MCCULLOUGH, David. 1776: A história dos homens que lutaram pela independência. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.

Artigo disponivel no site :  
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/especial-independencia-dos-estados-unidos-sonhando-com-o-inimigo

Geografia - Migrações e Processos de urbanização