sexta-feira, 15 de abril de 2011

21 de abril

O Mito do Tiradentes
Tiradentes pode ter sido mero bode expiatório no
trágico desfecho da Conjuração Mineira. Mas a
decência com a qual se comportou ao longo do lento e
tortuoso processo judicial e, acima de tudo, a altivez
com que enfrentou a morte, o tornaram, no ato, não
apenas a maior figura do movimento, mais também um
dos grandes heróis da história do Brasil. Enquanto a
maioria dos conjurados chorava, balbuciava e se
maldizia – trocando acusações e blasfêmias diante dos
jurados –, Tiradentes manteve a dignidade, o senso de
camaradagem e uma tranqüilidade despojada que, da
mera leitura dos atos, sua presença refulge imponente e
quase majestosa. Embora, de início tenha tentado
negar a existência da conspiração, tão logo as
acusações se tornaram evidentes, Tiradentes tratou de
atrair toda a culpa sobre si, praticamente se
apresentando para o martírio ao proclamar
responsabilidade exclusiva pelo movimento. Ao saber
que, além dele, outros conjurados tinham sido
condenados à morte, Tiradentes declarou: “Se dez
vidas eu tivesse, dez vidas daria para salva-los”.
Não houve, por parte dos acusados, qualquer espécie de retribuição. Com
toda a confusão de seus depoimentos, nenhum negara a participação de
Tiradentes nem seu entusiasmo fanático e às vezes imprudente pela revolução.
Para a Coroa, alferes também despontava como vítima ideal: primeiro, era alguém
com todos os ressentimentos de um típico “revolucionário francês”. Depois, não
era ninguém: “Quem é ele?”, perguntara uma carta régia enviada de Lisboa ao
desembargador Torres, juiz do processo. “Não é pessoa que tenha figura, nem
valimento, nem riqueza”, foi a resposta. Além do mais, quem levaria a sério um
movimento chefiado por um simples Tiradentes? Enforca-lo, portanto, teria o efeito
máximo como advertência e o mínimo como repercussão.
Mas os caminhos da história escolheram outras vias e, um século depois,
Tiradentes seria transformado no grande símbolo da república –
independentemente do papel que tivesse desempenho na Conjuração. Por anos a
fio, a historia da revolta subsistira apenas a memória popular. A partir de 1873, e
até 1893, a literatura e a historiografia começaram a transformar Tiradentes numa
espécie de cristo cívico. Ele renascera um pouco antes – no livro Brasil pitoresco,
escrito em 1859 pelo francês Charles Ribeyrolles, na figura de um herói
republicano “que sacrificara por uma idéia”. Em 1873, porém o historiados

Joaquim Norberto de Souza lançou sua História da Conjuração Mineira.
Descobridor dos Autos da Devassa, ele foi o primeiro a consulta-los. Após treze
anos de pesquisa, concluiu que o papel de Tiradentes fora secundário e que, por
causa da “lavagem cerebral” a que o teriam submetido na prisão os frades
franciscanos, substituíra o ardor patriótico pelo fervor religioso. “Prenderam um
patriota, executaram um frade”. Os republicanos, já tentando alçar Tiradentes ao
papel de símbolo do regime que estava para nascer, protestaram. Negavam ter
Tiradentes beijado as mãos e os pés do carrasco; não aceitavam a versão de que
ele dirigira à forca com um crucifixo; não acreditavam que tivesse dito que, como
Cristo, também morreria nu. Mas o fato é que as semelhanças entre a paixão de
Cristo e o martírio de Tiradentes eram tão evidentes (não faltava nem Judas nem
Pedro – e, agora, nem ressurreição) que depois de estabelecida a República, até
mesmo os pintores ligados ou contratados por lês passaram a representar
Tiradentes como se fosse Jesus no patíbulo. Com a passagem dos anos, a
memória e as imagens de Tiradentes continuaram sendo esquartejadas.
(EDUARDO BUENO, 2002)

A Sentença de Tiradentes
A Sentença do Alferes Joaquim José da Silva Xavier foi ‘pronunciada em
nome da Princesa de Portugal, D. Maria I, às 2 horas da manhã de 19 de abril de
1792’.
Eis a Sentença: “Pelo abominável intento de conduzir os povos da capitania
de Minas a uma rebelião, os juizes deste tribunal condenam ao citado réu a que,
com baraço e pregão, seja conduzido pelas ruas públicas ao lugar da forca e nela
morra a morte natural para sempre, e que depois de morto lhe seja cortada a
cabeça e levada a Vila Rica, onde em o lugar mais público dela será pregada, em
poste alto até que o tempo consuma; e o seu corpo será dividido em quatro
quartos e pregados em postes, pelo caminho de Minas, onde o Réu teve suas
infames práticas, até que o tempo também os consuma; e declarem o réu infame e
seus filhos e netos, e os seus bens aplicam para o Fisco, e a casa em que vivia na
Vila Rica será arrasada e salgada, para que nunca mais no chão se edifique, e no
mesmo chão se erguerá um padrão, pelo qual se conserve a memória desse
abominável réu”.

As faces de Tiradentes
Não se sabe como era as feições de Joaquim José da
Silva Xavier.
Todos os retratos (representações) são fictícias, fruto do
imaginário dos artistas. Nenhuma das obras utilizou
informações vindas de fontes supostamente confiáveis.
Durante o julgamento dos Inconfidentes, Alvarenga
Peixoto descrevera Tiradentes como “Feio e espantado”. O
depoimento do Frei Penaforte, que presenciou o julgamento,
indicava também que, ao ser conduzido ao patíbulo, o réu estava “com a barba e a
cabeça raspadas”.
Prisão de Tiradentes. Antônio Parreiras. Biblioteca de Porto Alegre.
Na análise das obras feitas por José Murilo de Carvalho no livro A formação
das Almas – O imaginário da Republica do Brasil, “Tiradentes surge como o Mártir
Ideal e imaculado na brancura de sua túnica de condenado”. Desta forma se
tornou aceito como símbolo nacional tanto por alguns monarquistas e
abolicionistas como pelos republicanos. Também no século XX, grupos militares
ditadores, grupos revolucionários de esquerda e o dinâmico Teatro de Arena lhe
confere o Título de Patrono Cívico do Brasil.

Blibliografia
 Brasil: Uma História. A incrível saga de um país – Eduardo Bueno – Ed.
Àtica
 Nova História Crítica do Brasil – Mario Schmidt – Ed.Geração
 A formação das Almas –O imaginário da República – José Murilo de
Carvalho – Ed. Nova Terra

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