PERSONAGENS DO DOIS DE
JULHO
Joana Angélica
Joana Angélica de Jesus nasceu em
Salvador, em 12 de dezembro de 1761. Aos 20 anos, entrou como
franciscana para o Convento da Lapa. Na época das lutas pela
independência, ocupava pela segunda vez a direção do convento. No
dia 19 de fevereiro de 1822, os portugueses atacaram o forte de São
Pedro e os quartéis da Palma e da Mouraria, vizinho ao convento.
Na investida ao quartel, soldados
tentam invadir o recolhimento das freiras acreditando que havia
soldados brasileiros e armas escondidos no local. Sóror Joana
Angélica posta-se à porta diante dos soldados para impedir a
invasão. A frase “Recuai ou penetrareis nesta casa passando por
sobre o meu cadáver” ficou famosa e determinou o destino da irmã.
A abadessa foi atacada a baioneta e
morreu no dia seguinte, 20 de fevereiro de 1822. Por causa do ato
heroico, a avenida ao lado do Convento da Lapa foi batizada com o
seu nome.
Cochrane
Thomas Alexander Cochrane, conhecido
como Lord Cochrane, foi convidado por D. Pedro e José Bonifácio
para lutar a frente dos navios brasileiros durante os conflitos de
independência do Brasil na Bahia, em finais de 1822. O inglês
desembarca no Rio de Janeiro em 13 de março de 1823, aos 48 anos de
idade, e em março é nomeado Primeiro Almirante da Marinha
Imperial. A partida para a Bahia acontece em 1 de abril. No dia 4 de
maio de 1823, a esquadra brasileira enfrenta 13 navios lusitanos,
perde a primeira batalha e é obrigada a fugir. Os problemas iam da
precariedade dos navios à falta de habilidade da tripulação. Os
navios comandados por Cochrane eram tripulados por portugueses,
escravos, ingleses, norte-americanos e pessoas apanhadas nas ruas do
Rio de Janeiro. Sua atuação na Bahia foi pequena por causa disso.
Por sua atuação durante a guerra de independência, o almirante
recebeu o título de Marquês do Maranhão e condecorado com a
medalha Grã Cruz da Ordem do Cruzeiro do Sul.
Labatut
O francês Pedro Labatut foi
contratado por D. Pedro I para liderar e organizar o Exército
Pacificador e por fim aos conflitos entre brasileiros e portugueses
nas lutas pela independência na província da Bahia. Comandante de
vários exércitos da América Latina nas guerras pela independência
da Espanha, Labatut veio para organizar grupos armados dispersos, sob
comando de civis, e transformá-los num exército forte, disciplinado
e leal ao imperador.
Foi Labatut quem entregou o ultimato
ao brigadeiro Madeira de Melo, militar português nomeado pelo reino,
para deixar a província da Bahia. O general ganhou glória na
vitória imposta aos portugueses na famosa Batalha de Pirajá. Foi
nessa batalha, em 8 de novembro de 1822, que o corneteiro Luis Lopes,
após receber a ordem de tocar retirada, deu o sinal de avançar, que
terminou na vitória dos brasileiros.
Mas o general entrou em conflito com
os senhores de engenho da Bahia ao determinar a libertação de
alguns escravos para integrar o Exército Libertador. Foi afastado,
deposto e preso, acusado de cometer violências contra senhores de
engenho. Labatut morreu na Bahia em 24 de setembro de 1849, como
marechal de Campo do Exército Brasileiro. Apesar da prisão, recebeu
a medalha de guerra da Independência na Bahia.
Maria Felipa
Maria Felipa de Oliveira foi figura
importante na defesa da Ilha de Itaparica dos portugueses. Descrita
como uma negra alta e audaz, liderou e organizou a resistência da
população insular. A heroína negra da Independência, como é
conhecida, foi responsável por organizar o envio de mantimentos para
o Recôncavo e pela comando dos grupos que faziam a vigilância das
praias para evitar as invasões portuguesas.
Nas batalhas, ajudou a incendiar
embarcações como a canhoneira Dez de Fevereiro, em outubro de 1822,
na praia de Manguinhos, a barca Constituição, também em outubro
daquele ano, na Praia do Convento. Em janeiro de 1823, liderou
mulheres na defesa da praia, em Itaparica, armada com peixeiras e
galhos de cansanção (uma planta abrasiva comum na região)
enfrentou os portugueses.
Com a independência, Maria Felipa
continuou a desafiar o status quo. Na cerimônia de hasteamento da
bandeira nacional na Fortaleza de São Lourenço em Ponta das
Baleias, Felipa invade a Armação de Pesca de Araújo Mendes,
português abastado, e surram o vigia Guimarães das Uvas.
Maria Quitéria
Maria Quitéria pediu ao pai,
Gonçalo Alves de Almeida, permissão para ingressar no Regimento de
Artilharia em Cachoeira, mas sua pretensão foi negada. Com a ajuda
da irmã, veste as roupas do cunhado José Cordeiro de Medeiros, e se
apresenta aos Voluntários do Príncipe D. Pedro, conhecido como
"Batalhão dos Periquitos", por causa da gola verde do
uniforme.
O Major José Antônio da Silva
Castro, avô do poeta Castro Alves, comandante do batalhão, aceita a
voluntária e Quitéria é incorporada à tropa.
O soldado Medeiros, como foi ao se
alistar, travou batalhar em Ilha de Maré, Barra do Paraguaçu e na
cidade do Salvador nos caminhos da Pituba, Itapuã e Conceição. Por
sua coragem, recebeu do general Labatut o posto de primeiro cadete e
decreto Imperial promoveu Maria Quitéria a alferes de linha. Em
1996, foi reconhecida como Patronesse do Quadro Complementar de
Oficiais do Exército Brasileiro.
Caboclos
Dois
heróis anônimos fazem parte do panteão do 2 de Julho. O Caboclo
aparece em 1824, quando a população, para comemorar a vitória,
enfeita uma carreta tomada do inimigo em Pirajá e desfila com um
índio da Lapinha ao Terreiro de Jesus.
A imagem atual foi esculpida em 1826
e desfila até os dias de hoje. A Cabocla só surge no desfile em
1846. As elites tentaram trocar o índio agressivo pela índia meiga,
inspirada em Catarina Paraguaçu.
A resistência popular não permitiu
e as duas imagens participam do cortejo. O Caboclo vestido como
guerreiro, matando a serpente com sua lança, e a Cabocla Catarina
acolhendo o português Diogo Álvares Correia, o Caramuru.
O 2 de Julho sempre foi tenso em
Salvador. As comemorações, durante o Império, incluíam o que os
soteropolitanos chamavam de "mata-marotos", ou saques às
casas dos portugueses.
Na República, as elites baianas
chegaram a retirar os caboclos do desfile, mas sempre que isso
acontecia a população não participava da festa, que se esvaziava,
organizando o desfile em outras datas.
Nas comemorações do centenário,
em 1923, os caboclos não desfilaram. Para que a festa não se
esvaziasse, colocaram no cortejo a imagem do Senhor do Bonfim.
Apesar da pressão, a tradição
popular resistiu ao longo dos anos e os caboclos continuam a desfilar no 2 de Julho. "Chorar no pé do Caboclo” tornou-se jargão
do baianês para representar uma reclamação ou queixa.
Fonte :
http://www.atarde.uol.com.br/2dejulho/index.html#personagens